domingo, outubro 22, 2006

Curtas do Atendimento ao Público...

... insólitos! (ao telefone)

13 a "Boa tarde"

"Boa tarde"
"Olhe, desculpe, a parte do pagamento é mesmo necessária?"

13a ... "Bem..., aqui, e em muitos outros sítios, a prestação de serviços basea-se numa troca que implica um pagamento em dinheiro... Sim!"

"Então e para nós também?"

13a "E quem são os Senhores, Desculpe a indelicadeza?!"

"Somos do Norte"

... E quase que dizia... então pode ser!!! Com certeza, como são do norte e eu não os conheço de absolutamente lado nenhum, e como é a 1ª vez q trabalham com a nossa empresa, claro que sim... Venha e não pague que os alentejanos são generosos!!!

Será que para elém de sermos a região mais pobre do país ainda teremos que ajudar o norte na sua expansão económica, oferecendo serviços que em todo o mundo são pagos?

sexta-feira, outubro 06, 2006

Sabedoria Popular...

Quando morro eu não sei
Aquilo que tenho não levo
Mas levo tudo o que dei

Isto é o que acabo de ouvir e tive, porque tive mesmo que registar. Porque se registam os momentos únicos, porque se registam as palavras sábias.

No canto onde estou, muitas vezes trabalho em silêncio para uma máquina muda, mas as pessoas passam e entre as coisas que faço, as palavras que dizem vão ficando. Hoje era uma senhora, nada, mas mesmo nada jovem que falava.

O acentuar dos ‘erres’ enfatizava tudo o que dizia e prendeu-me à conversa que tinha com as amigas. Falava sabiamente dos desejos que tinha para realizar ainda em vida, e falava do apego daquelas que poderiam ajuda-la nessa alegria, mas não o fazem por isso mesmo, apego. Apego à matéria e à vida que, pensam eles, para eles, nunca vai acabar.

Cusca sorridente ouvi, aquilo que era para eu ouvir, porque o dizia alto, com orgulho. Alto para sentir e viver outra vez aquilo que dizia, o ter conseguido ser doutora nos seus tempos de mocidade, as viagens que realizou, as pecinhas que juntou para deixar aos outros um pouquinho do muito mundo onde andou. E isso e o poema que disse emocionaram fortemente porque com a idade que tinha, sendo mulher, seguramente não foi fácil ouvir as recusas que ouviu para poder doar aos outros aquilo que viveu.

O desejo era o de fundar um museu, que já tem recheio e peças, só não tem casa onde morar. E dizia sem tristeza, mas com um sorriso sincero, que gostava ainda de o ver em vinda porque sabe que quando morrer e derem com o que tem o vão fundar. E embrenhei-me nisto, nesta tristeza do querer dar e não poder, do não querer levar mas quase que vai ter que ser, porque a pele enrugada previa uma não muito longa estadia.

E fico triste ao dize-lo mas a Natureza não se engana, e se por vezes nos leva mais jovens do que devia, é certo que nunca, mas nunca mesmo nos deixa aqui. Mesmo que tenhamos vivido muito, com toda a intensidade, como esta Srª viveu, com esta vontade toda, que deixou nos Jardins das Conchas as árvores que lhe pertenciam, árvores que lhe queriam tirar e que ali criaram raízes.